Testemunho de Vida

Inicialmente, queremos através desta página, apresentar o testemunho de vida de nossas irmãs que nos precederam como Monjas Passionistas até chegar em nossos dias com o testemunho vocacional. Para nós, a vida de cada uma delas é uma riqueza e elas nos tem muito a ensinar!

Madre Angélica do Preciosíssimo Sangue

Madre Maria Angélica do Preciosíssimo Sangue, CP

( Maria Cardi )

* 12 – 08 – 1912 Itri – Itália
✝ 10 – 09- 2003 S. Paulo – Brasil

 

         “ Por um vivo sentimento de gratidão, sinto-me impelida a manifestar o meu reconhecimento para com Deus e a minha Congregação que me acolheu.

        Sou italiana, residente no Brasil desde 1936, com 89 anos de idade, mas com um entusiasmo juvenil, graças à Deus. Desde pequena senti-me chamada à vida religiosa, mas infelizmente, na idade de 14 anos, comecei a sentir atrativos para as coisas do mundo e abafei a graça da vocação, até cheguei a aceitar uma proposta de matrimônio. Mas, Jesus que na sua infinita misericórdia velava sobre mim e queria o meu coração só para si, não permitiu que se efetuasse e agiu de um modo admirável.

           Serviu-se de uma minha amiga de infância, agora religiosa, que antes de entrar no Convento sabia da minha vocação, mas, depois de feita religiosa não tínhamos correspondência epistolar.

         Um belo dia, ela escreveu à sua mãe perguntando-lhe por mim e dizia-lhe: “Maria que pense bem, porque ela não foi feita para as coisas deste mundo!” E a sua mãe ao referir-me estas palavras, me repetiu: “Pense bem, porque Ermínia ( a filha) falou assim!”.

         Essas palavras das duas foram como uma lançada ao meu coração, mas, foram palavras de vida e a vocação que até então parecia apagada, germinou de novo, e mediante uma novena que fiz à Nossa Senhora das Graças, senti tanta força e coragem de despedir o moço, deixar o mundo e entrar na Congregação Passionista de Clausura Contemplativa, na qual, me acho feliz. Eu tinha 21 anos de idade.

Agora vou contar brevemente porque me acho no Brasil:

         Passado um ano depois da minha Profissão Temporânea, Jesus exigiu de mim um desapego total da minha Pátria, a Itália e dos meus familiares. Os Superiores quiseram que eu e mais seis irmãs, tomássemos parte de uma fundação no Brasil. Eu respondi que iria se fosse a vontade de Deus. Eles me responderam assegurando-me que era, porque, antes de escolher as religiosas para esse fim, tinham invocado o Espírito Santo. Então, escrevi para os meus pais, notificando-lhes a minha próxima transferência. Tal notícia, revolucionou a minha família. Por eu ser filha única com um só irmão, minha mãe tinha um carinho especial por mim e por mim era correspondido; logo que soube, pegou o trem e foi ao mosteiro para dissuadir-me. Toda angustiada suplicava-me para não ir tão longe. Naquela hora lembrei-me que Deus está acima dos pais e com a vontade de Deus não se discute; fiquei firme e sempre repetindo-lhe: é vontade de Deus que eu vá. Ela tão piedosa me intimou a deixar o Convento e voltar para a família! Nessas horas de grande prova, uma mãe afetuosa fala o que lhe dita o coração, Jesus perdoa, e eu com o coração retalhado de dor por vê-la sofrer tanto por minha causa, precisei ficar firme a não ceder.

     Oh! Santa vontade do meu Jesus! Profundamente humilhada no meu nada, eu te adoro e agradeço, porque, quem deu-me forças para dominar os ímpetos amorosos do meu coração para com minha querida mãe? foste Tu, ó Jesus, porque na tua bondade nunca nos pedes coisas impossíveis e estais sempre pronto com a tua graça para nos ajudar”…

       Com o tempo, minha mãe acalmou-se, conformou-se com a vontade de Deus e ficava tão feliz quando recebia minhas cartas, com as notícias do meu querido Brasil, que amo e considero minha segunda Pátria.

       A minha história é um tanto original, porém posso afirmar que nos contratempos e dificuldades de que é semeada a vida, e que bem nos fazem participar da Paixão de Cristo, nunca vacilei e nunca me arrependi de ter deixado o mundo seguindo a vida religiosa e de ter vindo ao Brasil!

         Se o mundo soubesse como o Senhor recompensa a quem se lhe doa inteiramente! Como dizia o jovem Passionista São Gabriel da Virgem Dolorosa: “ Os conventos ficariam cidades e as cidades desertas…” É mesmo assim!”

         Madre Maria Angélica do Preciosíssimo Sangue

Concluamos sua história:

No mosteiro foi sempre uma religiosa exemplar. Com seu bom espírito, bondade, simplicidade e verdadeira caridade, tornou-se uma das colunas fundamentais na edificação da Comunidade deste Mosteiro. Contribuiu muito, quase sempre como Vigária, Conselheira e, sobretudo, como Mestra de Noviças. Sua admirável lucidez e juventude do coração, permitiu que aos 90 anos fosse ainda eleita 2ª Conselheira e continuasse integrando a Equipe de formação, como também atuar até a morte como Organista e Compositora. Apesar de seus achaques acompanhou sempre a Comunidade em todos os “Atos Comuns”, até os seus últimos dias. Estando dispensada a alguns anos de levantar-se à 1:30hs. da madrugada para as Matinas, fazia-o em todas as Solenidades e algumas festas, tocando com entusiasmo o órgão. Era sempre uma das primeiras a chegar.

   Rezava todos os dias a Coroa de São Miguel Arcanjo por todas aquelas que tinham sido suas Formandas, tanto as que perseveraram como as que saíram. Rezava muito e pedia que se mandasse celebrar Missas pelas Almas do Purgatório. Seu amor apaixonado a Gesú, Seu Divino Esposo, era impressionante; sempre que falava dele, tinha lágrimas nos olhos. Todos os dias sentava-se diante do Tabernáculo e ali ficava por longo tempo. Às vezes, julgando-se só na Capela, cantava a Jesus, muito baixinho, para não quebrar o silêncio, cantos de amor, de ação de graças e adoração. Era sumamente agradecida; a Vontade de Deus, era o que buscava e ensinava a buscar. Seu lema era: “Sim, Pai!”.

         Tinha um grande zelo pela glória e serviço de Deus, pela Santa Igreja, pela salvação das almas; pela propagação da Paixão de Jesus e das Dores de Nossa Senhora; sua intercessão mais insistente era pelos agonizantes e pecadores, pelas vocações e pelos sacerdotes. Seu amor ao Santo Padre e ao Bispo Diocesano era de uma ternura encantadora. Alegrava-se e apoiava com entusiasmo e carinho qualquer santa iniciativa, das Superioras, da Comunidade e das irmãs individualmente. Foi para todas nós modelo de verdadeira Monja Passionista, foi aqui na terra e continua sendo no Céu, a nossa “Matriarca”.

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