Quem Somos

 
“A memória da Santíssima Paixão de Jesus Cristo é a porta que leva nossas almas à íntima união com Deus, à lembrança interior, à contemplação mais sublime. Precisamos gravá-la em nossos corações, deixar-nos penetrar pelos sofrimentos de Jesus, para que através deles o amor de Deus se acenda em nós e vivamos imersos no abismo da Divindade.”
São Paulo da Cruz, Cartas

Quem somos nós? Não nos chamamos, porventura, “passionistas”, isto é, religiosos(as) da Paixão de Jesus Cristo? Assim é, de facto: este é o nosso nome; e, para que tudo esteja em coerência com o nome, envergamos uma túnica preta em sinal de luto, e trazemos ao peito um emblema onde está impresso o título da Paixão de Jesus Cristo, como se esses sinais fossem a nossa divisa e a nossa bandeira. Tudo isto, caríssimos, vos dá a conhecer claramente que a nossa Congregação se distingue dos outros Institutos precisamente por isso, pelo facto de professar um especial amor e uma singular devoção ao mistério da Paixão do divino Redentor. Além disso, acresce que a todos nós, na profissão, se exige que, para além dos habituais três votos comuns a todos os Institutos, façamos outro, através do qual prometemos a Deus propagar com todo o empenho no coração dos fiéis esta devoção a Jesus Crucificado. Isto demonstra claramente que tal devoção é a nossa característica, o nosso distintivo, o fim particular do nosso Instituto. A ideia de fundar esta nova Congregação na Igreja de Deus, concebeu-a São Paulo da Cruz, nosso Fundador, precisamente para satisfazer o ardentíssimo desejo que abrasava o seu coração de assim corresponder, de alguma forma, ao amor que Jesus nos mostrou, padecendo tanto por nós.
   Caríssimos: se o Senhor vos distinguiu com esta vocação, isso é sinal evidente de que Ele quer que estejais também impregnados deste espírito, o que exige de vós esta devoção especial. Vedes como Jesus Cristo Nosso Senhor Se põe a caminho com os seus discípulos para o horto do Getsémani? Chegado ao local, despede-se de todos, destacando apenas três deles para O acompanhar, tornando-os testemunhas e participantes da sua penosa agonia. Não vedes também lá em cima, no Calvário, como escolhe apenas João para o tornar participante dos seus últimos testemunhos de amor, concedendo-lhe a graça de testemunhar e recolher os seus últimos suspiros?
   Pois bem, meus filhos: é justamente nisto que devereis ver representada a nossa vocação; esta é a missão a que todos nós estamos chamados, não diria apenas entre os cristãos, mas também entre todos os Religiosos, ou seja: a missão de fazer especial companhia a Jesus Crucificado, de estar mais perto d’Ele do que os outros, saboreando com mais gosto a amargura das suas penas e compadecendo com maior ternura as suas dores, para nos deixarmos inflamar com mais calor e eficácia do seu grande amor.
   Não havendo dúvidas sobre isto, considerai então as consequências que daí resultam. Uma vez que sobre nós incumbe, como dever de estado, fazer companhia a Jesus sofredor, compadecendo-nos das suas penas e honrando a sua Paixão; se sobre nós incumbe o dever especial de nos impregnarmos desta devoção e de adquirir a capacidade de a imprimir nos outros, daí se conclui, portanto, que, necessariamente, sejamos obrigados a recorrer àqueles meios que são próprios e indispensáveis para alcançarmos esses objetivos. Ora, que outro meio mais eficaz poderemos utilizar que não seja a oração? Digo oração, que consiste em meditar assiduamente, e de propósito, neste grande mistério de um Deus que sofreu e morreu por nosso amor.
   Caríssimos, esta é a consequência legítima da nossa vocação: Deus chamou-nos a ser passionistas; por isso mesmo, devemos tentar tudo por tudo para chegarmos a ser verdadeiros devotos da Paixão do Senhor, íntimos companheiros de Jesus Crucificado, sinceros e fervorosos amantes do Crucifixo. É necessário, para isso, que façamos oração, a fim de conseguirmos a luz que nos dê a conhecer os profundos mistérios escondidos na Paixão de Jesus Cristo e extrair dos mesmos aquelas motivações que sejam capazes de inflamar o nosso coração no santo amor.

Dos «Colóquios espirituais para uso dos noviços passionistas», do Beato Bernardo Maria de Jesus.(Tratt. VI, p. 117-119, Roma, 1886)

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